A arquitetura tem o poder de se envolver emocionalmente com seus ocupantes. Momentos elaborados a partor do tato estendem a arquitetura ao design de experiência — uma necessidade crescente na economia da experiência. Através do estímulo sensorial e intelectual, os espaços podem se conectar profundamente com seus ocupantes, resultando em momentos memoráveis. A orquestração de uma experiência requer não apenas a compreensão dos princípios espaciais, mas também como os serviços do espaço são projetados.
O design de experiência é uma prática focada na qualidade do comportamento humano e da interação social. A disciplina vai além do espaço arquitetônico, chegando nos produtos, serviços, processos, eventos e jornadas. Por anos, os arquitetos teorizaram a produção de experiências, dominando a arte de construir viagens sensoriais a partir da forma construída. Atualmente, a indústria da arquitetura carece de foco no usuário - o coração do design de experiência.
Arquitetura de experiência
Neste momento, o discurso e a prática arquitetônica parecem ser impulsionados pelo “ego do designer”. Empresas e arquitetos de destaque enxergam seus projetos como expressões artísticas elaboradas que muitas vezes não atendem ao entendimento do usuário final. De fato, os espaços podem ser criados com a intenção de beneficiar os seus ocupantes sem sondar as suas verdadeiras necessidades. “Quando você olha para a arquitetura como uma entidade, ela é apenas um objeto de beleza e funcionalidade. No minuto em que você vê a arquitetura como uma experiência, é impossível projetar sem considerar os usuários”, compartilha Zachary Morgan da Untitled Experiences.
A arquitetura centrada no usuário é uma experiência projetada para as emoções. O processo de projeto arquitetônico deve evoluir em resposta às pessoas que usam o edifício, com foco na funcionalidade, através de decisões de projeto baseadas em dados e nas necessidades dos vários ocupantes do espaço. Embora já exista há décadas uma abordagem experimental do projeto arquitetônico - por meio das obras de Peter Zumthor, Juhani Pallasmaa e outros - ela requer uma reavaliação para se adequar ao contexto contemporâneo. O que falta é uma metodologia estruturada e a prática de criar experiências - um conceito que os arquitetos podem aprender com os designers de serviços.
Design de serviços
O design de serviços é uma indústria relativamente nova que surgiu em torno do design de experiências humanas, em contraste com a antiga arquitetura. Sua prática começou na década de 1980 para melhorar a qualidade dos serviços e as experiências do cliente. A comunidade de design de serviços estabeleceu ferramentas e técnicas para entender usuários, interações, pontos de contato e experiências. Blueprints de serviço e mapas de jornada do usuário são elementos comuns que detalham cada momento de uma experiência projetada para garantir operações tranquilas e resultados emocionais positivos.
Uma abordagem transdisciplinar: design de serviço espacial
A interseção entre o projeto arquitetônico e o design de serviços proporciona uma nova abordagem para a produção de experiências. As emoções são os blocos de construção de uma experiência incorporada - algo que tanto os designers espaciais quanto os de serviços têm habilidade de influenciar. Os arquitetos entendem os conceitos de compressão e liberação, jogo de luz e propriedades materiais para provocar respostas dos ocupantes de um edifício. Designers de serviços são ótimos em organizar fluxos de interações entre o usuário e o espaço para oferecer uma experiência positiva.
Uma abordagem para esse processo transdisciplinar - demarcada por Zachary Morgan - começa com a pesquisa em design. Por meio de workshops e conversas, são compreendidos os requisitos do cliente junto com as necessidades e desejos de um grupo de usuários. Insights são então obtidos, dando parâmetros para o design espacial. Por fim, uma jornada experiencial é construída a partir da perspectiva de cada tipo de usuário, projetando todas as interações, desde a entrada no espaço até a participação nos serviços e a criação de momentos memoráveis.
Os parques temáticos são um excelente exemplo da sobreposição de design espacial e de serviços. Cada sensação - desde ficar em uma fila até andar de bicicleta - é intencionalmente trabalhada. As experiências dos hóspedes também são cuidadosamente formuladas, identificando cada ponto de interação possível. Para projetar uma experiência espacial, torna-se crucial integrar os pontos de contato percebidos pelos hóspedes e as operações de suporte e equipe. Além da estética e funcionalidade, é a experiência emocional do hóspede que impulsiona o design.
Outras tipologias arquitetônicas também poderiam se beneficiar de uma abordagem de design de serviços espaciais. Hospitais e instituições de ensino lidam com diversos tipos de usuários, fluxos de serviço e culturas. Projetos de grande escala em que um serviço é oferecido merecem uma abordagem mais formal para arquitetura centrada no usuário e orientada para a experiência. No que diz respeito a edifícios de menor escala, como residências, o processo de projeto arquitetônico tradicional se destaca por atender às necessidades de um único tipo de usuário.
Potenciais futuros
O design de serviços em sua relação com a tecnologia e o ambiente construído faz um ótimo trabalho ao moldar uma experiência igualmente focada em pontos de contato físicos e digitais. Com o metaverso e os mundos digitais, as leis da física não restringem as experiências espaciais. Isso oferece aos designers novas possibilidades para reimaginar como as emoções podem ser evocadas em um espaço. O design de serviços auxilia na curadoria de elementos físicos e de interações digitais em um ambiente, e pode servir como um elo entre tecnologia e arquitetura.
Considerar simultaneamente o design de serviços e do espaço físico permite que a experiência resultante funcione perfeitamente, e que as necessidades, intenções e objetivos do usuário e dos prestadores de serviço sejam atendidas. É evidente que os serviços e seus espaços estão intrinsecamente ligados e influenciam fortemente uns aos outros. “Todo arquiteto já pratica algum tipo de design de serviço informalmente”, diz Morgan.
O futuro da arquitetura tem menos a ver com criar objetos de beleza e funcionalidade. Será sobre a criação de experiências espaciais onde as emoções e a satisfação das pessoas são o centro do projeto. Nas palavras de Juhani Pallasmaa, “o significado arquitetônico deriva de respostas e reações arcaicas lembradas pelo corpo e pelos sentidos”.